No começo do inverno de 1999, perto das férias de julho, mas antes das últimas provas do G1, fizemos o primeiro show da Burnin´ Boat. Fiquei bastante eufórico nos dias seguintes. Entretando, logo deu para perceber que o Luciano e o Guilherme Deathroner não tinham tanta vontade de tocar com a gente, seja pelas covers, seja pelas composições próprias, e essa situação era frustrante (e cheguei ao ponto de mandar um e-mail lamentável para os caras... definitivamente não sabia conduzir as coisas adequadamente, e é evidente que isso não rendeu bons frutos). O Bruce e eu costumávamos, em retorno, desmarcar ensaios da Ruligans para tocar como Burnin´ Boat, e eventualmente a Ruligans se dissolveu. Assim, a Burnin´ Boat ficou resumida a guitarra e bateria por vários meses. Mesmo assim, o Bruce e eu mantivemos uma rotina semanal de ensaios, e isso proporcionou o desenvolvimento das músicas próprias. Afinal, curtíamos mesmo era tocar o que desse na cabeça e os ensaios se resumiam basicamente a longas sessões de improvisação. Só que tínhamos uma noção de começo, meio e fim nessas improvisações, e não raro saíamos com a sensação de que éramos capazes de compor discos inteiros com músicas criadas espontaneamente nesses ensaios. Essa sensação transformou-se numa espécie de convicção quando chegamos ao ponto de voltar para casa, após um ensaio, ouvir as fitas, passar para o computador, gravar os mp3, tirar os riffs, transcrever tudo para um programa de edição de tablaturas, e ajustar a ordem das partes da música; ao final desse processo, tínhamos uma música nova. Um excelente exemplo desse nosso método de composição é a faixa “Noise Garden”.
Voltando um pouco no tempo - 1998, Parasite, muitos ensaios
No final de 1999 estávamos a procura de um vocalista. Convidei o namorado duma colega de estágio, mas o cara estava se dedicando aos estudos, até chegou a ouvir uma fita, mas não se interessou em fazer um teste. Já tínhamos tido uma experiência de "quase" formação da banda anteriormente, então sabíamos das dificuldades, não tínhamos pressa, mas já estávamos ansiosos para tocar com a formação completa. Um ano antes (1998), o Pedro, quando ainda era nosso “tocador de baixo” (embora raramente aparecesse em algum ensaio), tinha contato com a Parasite, uma banda cover do Kiss que ele “empresariava” de certa maneira. Aparentemente o “Paul Stanley” da Parasite, chamado Felipe, também tinha umas composições, e o Pedro e o Bruce tiveram a idéia de chamar o cara para tocar conosco. Não demorou e fizemos um ensaio num sábado quente de dezembro de 1998 no nosso estúdio, e tocamos, basicamente, músicas do Kiss. Nunca tínhamos tocado tantas músicas legais, e embora nunca tivesse praticado os solos do Ace Frehley em casa, sabia boa parte deles só de ler as tablaturas nas revistas de guitarra e na internet. Apresentamos “Hidden” para o Felipe, e ele mostrou uns trechos de uma composição dele, que nem conseguimos tocar – simpesmente não acertávamos o tempo certo para entrar depois da introdução de guitarra (pedi para que ele gravasse numa fita para tentar tirar em casa, o que ele jamais fez, de modo que até hoje duvido que ele efetivamente tivesse as duas ou três músicas próprias que se dizia).
A formação, então, seria Bruce, Pedro, eu e Felipe. Fizemos mais um ou dois ensaios (janeiro de 1999), e aí já nos concentramos em tocar “Hidden”, à época um pouco diferente da versão eventualmente apresentada no Cecaf (a parte lenta seria não mais a base para o terceiro verso, e sim para um solo; o terceiro verso seria cantado sobre uma base mais rápida, o que acabou sendo rejeitado por todos, especialmente pelo Pedro que tinha muito pouca técnica para tocar nas partes mais fáceis – o que dizer numa parte rápida... imediatamente, então, sugeri tocar só uns acordes, e essa versão é a que acabou sendo registrada no nosso cd). Acontece que o fato de tocarmos várias músicas do Kiss no primeiro ensaio, aliado ao fato de que desempenhei com alguma decência os solos do Ace Frehley (pelo menos fiz uns bends enquanto o Felipe tocava as bases), acabou, em retorno, dando ensejo para um convite da Parasite para eu tocar com eles. O “Ace Frehley” dos caras estava enfrentando alguns problemas pessoais que não lembro ao certo, e o Felipe teve a idéia de me chamar. Recebi o convite no dia da festa de aniversário do Tiago e fiquei bastante feliz com a idéia, sobretudo pelos planos grandiosos que os caras tinham de, por exemplo, fazer shows no interior e tudo mais. Assim, no ano novo de 1999 fiz o primeiro ensaio com a Parasite e, depois de uma longa conversa, entrei para a banda.
Só que o fato do Felipe se dedicar (muito) mais à Parasite do que à Burnin´ Boat me perturbou um pouco, e tive a oportunidade de deixar claro para os caras que a minha idéia era a inversa, i. é, prioridade era a Burnin´ Boat. Em fevereiro de 1999 fiquei uma semana na praia e, na volta, fiquei sabendo que os caras tinham arranjado um substituto para mim (o fenomenal Daniel “Ace” Lairihoy), e a dupla Bruce & Pedro já haviam acertado a volta do Luciano para os vocais da Burnin´ Boat. Seguiram-se ensaios, finalizamos algumas músicas (como “Over the Moon” e, possivelmente, “Sweet Thing”) e em março já estávamos procurando um baixista. Chegamos a fazer um ensaio memorável com o famigerado “Petry do slap”, e dessa sessão frutificou a melodia do baixo no interlúdio de “Boats are Burning”. Tocamos também com Érico, o "Gene Simmons da Parasite", mas o cara não se interessou pelo nosso som (ele era fã de sons mais básicos), o que foi uma pena pois curtimos o jeito que ele tocava, somado ao fato de que ele sabia cantar decentemente. Eventualmente fizemos ensaios com vários amigos, como o Giulia & Joca, Diego & Jorge, Flávio e outros caras que participavam de salas do mirc ou zaz (teve um guitarrista, estilo Malmsteen, que ao final do primeiro ensaio me deu carona e sugeriu excluir o Bruce da banda, e formarmos uma nova... não por acaso, jamais tivemos notícia do cara).
O ensaio que tivemos com a dupla Jorge e Diego (que eram meus colegas de colégio, sendo que o segundo já a época era um dos guitarristas da Hibria) foi, assim como o com o Petry do Slap, particularmente produtivo. Tocamos algumas músicas nossas, e foi aí que o Diego deu uns toques muito legais (que acabamos incorporando definitivamente) com as guitarras harmonizadas nos versos de "Hidden" e na parada após o refrão de "Boats are Burning". Realmente isso serviu para abrir um pouco a cabeça em relação ao arranjo das linhas das guitarras - sabia que deveria evitar duas linhas iguais, mas não sabia, ainda, o que fazer para torná-las diferentes, e esse ensaio serviu para endender como poderíamos testar (e eventualmente adotar) certas idéias.
A formação clássica - 2000
Depois desse primeiro show no inverno de 1999, pouco mais do que muitos ensaios com jams e composições inesquecíveis só com guitarra e bateria frutificaram durante o resto de 1999. Afinal, lá por março de 2000, conseguimos via anúncios na rede dois sérios candidatos a baixista, simultaneamente; o Bruce agendou com um, eu com o outro. O primeiro baixista foi o que eu entrei em contato, e marcamos um ensaio. O cara era muito bom mesmo, e quis levar a fita do ensaio para casa para tirar as músicas imediatamente. Só que o lance do cara era montar uma banda para tocar e ganhar dinheiro, que era o tipo de idéia que não nos seduzia. Sabíamos que o nosso som não era do tipo comercial, e tínhamos consciência de nossas rasteiras habilidades musicais – tínhamos que amadurecer bastante ainda musicalmente. Além disso, a cada cover que tocávamos (tipo Maiden ou Sabbath) ele tentava acompanhar e dizia que havia aprendido há anos atrás, e que desde a adolescência ele não ouvia ou tocava nada da respectiva banda; ficou evidente que ele não era fã do som que adorávamos escutar e tocar. Assim, fizemos questão de deixar claro que não abriríamos mão de fazer a audição com o outro baixista, e assim o fizemos (afinal, levamos tanto tempo para encontrar alguém disposto a tocar conosco). O Bruce, então, marcou o ensaio com o Nilton (não lembro se a Vanessa se fez presente já naquele primeiro dia). A empatia foi imediata, pois o cara gostava das mesmas bandas que nós, e ainda mostrava uma certa vocação para compor (que ele acabou não exercendo no futuro que se seguiu). Sem contar que era uma excelente figura, e tinha a mesma vontade de tocar músicas boas que nós. Não tivemos dificuldade para escolher o Nilton, e a mim coube encontrar o outro cara para tentar pegar as fitas do ensaio de volta. Além disso, nessa época e durante algum tempo o Nilton namorava a Vanessa, que se tornou presença certa em quase todos os ensaios e uma grande amiga de todos.
Já tínhamos, então, um vocalista e um baixista, mas ainda faltava o outro guitarrista. Jamais cogitamos que a banda teria apenas a minha guitarra, sobretudo pelo fato de não ter a desejável habilidade para solar. Não demorou muito e o Nilton chamou um colega dele (acho que do colégio ou Escola Técnica), o Nedimar. Ensaiamos com ele e assim completamos a formação da banda: Bruce, eu, Luciano, Nilton e Nedimar.
Bem vistas as coisas, o Nedimar não era um guitarrista de heavy metal. O negócio dele era Pink Floyd, e ele empunhava uma Stratocaster e solava bem como David Gilmour, mas apesar do nosso som ser pesado foi notável que ele fez o esforço de aprender algumas músicas e tal. Não por acaso, uma das que ele tirou com mais facilidade foi “Cold Wind”, a única "balada" ou "lenta", que tem um dedilhado com guitarra limpa. Essa experiência com o Nedimar foi importante, pessoalmente, pois pela primeira vez questionei o som que estava extraindo da combinação guitarra-pedaleira-amplificador. A minha distorção era demasiado aguda e abelhuda, e parecia atrapalhar o som das músicas. Nesse sentido, o som do equipamento do Nedimar era muito melhor, e foi aí que aprendi a ouvir o som da minha guitarra com uma certa crítica. Até hoje não sei dizer se foi precocemente, mas o Nedimar concluiu em pouco tempo que não seria uma boa para ele continuar tocando com a gente. O cara me contou pessoalmente a sua decisão, numa vez em que nos encontramos no lotação para a faculdade. Fiquei um pouco decepcionado (recém tínhamos conseguido estabelecer e estabilizar uma formação), e deixei claro que era uma pena.
Mal sabíamos nós que com o Nilton havíamos conseguido mais que um baixista; o cara conhecia guitarristas aptos a tocar conosco. Assim, em questão de poucas semanas, apareceu o Cláudio. Este sim gostava de um som similar ao nosso, pois era fã de Black Sabbath, Ozzy Osbourne e Iron Maiden. Não bastasse isso, o cara tinha uma técnica incrível na guitarra, e sabia tocar muito bem os solos de todas as músicas dessas bandas. Parecia que não havia solo que ele não conseguisse tirar, pelo menos para o efeito de tocar conosco. Enfim, foi um baita acréscimo e a formação clássica da Burnin´ Boat estava reunida.
O 2.º show
Ensaiamos, então, semanalmente (preferencialmente nas tardes de sábado), formamos um repertório de composições próprias e covers, e logo aconteceu de ser marcado um show com outras duas bandas. Não lembro ao certo como isso surgiu, mas o show se daria no famoso Teatro de Elis (antigo Porto de Elis), perto do Barranco, num fim de tarde de domingo chuvoso de Gre-nal decisivo do Campeonato Gaúcho daquela temporada. Fiquei satisfeito, pessoalmente, com o fato de que rolou cartaz nas ruas anunciando esse show, pois um dos meus sonhos era esse: ter o cartaz com o nome da minha banda num muro da cidade.
Das bandas que tocaram conosco eu lembro só da Daduke. Encontramo-nos todos na passagem de som, e como a Daduke seria a última banda a tocar (os caras tinham trazido a bateria), eles fizeram a passagem primeiro e foram embora para voltar só na hora do show deles. Nos seríamos a banda do meio. Depois saímos para fazer um lanche (eu fiquei por perto, enquanto que o Luciano, o Bruce e não lembro mais quem foram no McDonald´s).
O público não foi expressivo, conquanto houvesse algumas pessoas que não eram conhecidas de nenhum dos integrantes das bandas; eram caras que tinham recebido o flyer do show nos bares da Av. Oswaldo Aranha (conversamos com alguns deles que estavam aguardando na pequena fila para entrar). De conhecidos estavam Raquel, Carol, uma amiga delas e do Bruce, a Vanessa, o Guilherme Deathroner, acredito que o Felipinho e o Minduim, e a Sabrina.
A Pulse foi a primeira banda da noite, e o som dos caras era mais para grunge, mas não acompanhei nada do show, pois queria me concentrar para quando fosse a hora de subir ao palco.
Apresentei-me com uma camiseta que o Bruce achava legal, do filme “Heat”. Abrimos com “Highway Star” do Deep Purple, e o ponto alto (evidentemente) não era a minha versão do solo de R. Blackmore, e sim a interpretação do Cláudio do solo de teclado do Jon Lord. Algumas pessoas se animaram bastante e ficaram se empurrando na frente do palco (o tradicional pogo). Certamente não tínhamos muita noção de set list, pois emendamos uma outra música rápida, dessa vez o nosso clássico “Boats are Burning”.
Nílton e Cláudio eram fanáticos por Iron Maiden, e assim foi natural que incorporássemos alguns covers, embora antes dos caras entrarem na banda isso fosse impensável (o Bruce nunca foi fã, embora tivesse comprado uns discos). Embora o Luciano não gostasse particularmente da música, para mim foi um momento memorável tocar “Powerslave”, uma bela composição do Iron, com vários riffs e andamentos. Lembro-me perfeitamente que o Guilherme Deathroner (notório admirador do Iron e fã do Steve Harris) se postou bem à frente do palco, e ficou de cara para o Cáudio durante o solo.
Eu fiz questão de que tocássemos uma do Kiss, e sugeri “I Stole Your Love”. Mas acho que só eu curtia essa música, pois ninguém realmente tirou a cover, de modo que não fizemos uma boa versão e foi a última vez que a tocamos. A apresentação durou mais de uma hora, e queríamos tocar o maior número possível de músicas, mesmo sem tê-las ensaiado todas adequadamente. Lembro que fiquei meio desconcertado por não aquecer propriamente para o show, conquanto tenha ido no camarim com a Sabrina para descansar antes de subir ao palco (durante a apresentação da Pulse).
Constou do set-list nossas principais composições próprias da época: além de "Boats are Burning", rolou "Over the Moon", "Hidden", a instrumental "Attitude Adjustment" e "Sweet Thing". Quanto aos covers, realizamos o sonho de tocar "Burn" (quando iniciamos a banda e o Bruce tomou contato com o disco "Burn" do Deep Purple, achávamos que jamais conseguiríamos executar essa faixa de 6min, com solos de guitarra e teclado, e de bateria, se considerarmos as linhas de Ian Paice durante os versos). Além disso, desde o início queríamos incorporar uma clássica obscura, e chegamos à idéia de tocar "Say What You Will" do Fastway, que é conhecida por ter sido a música de abertura do seriado "Juba e Lula". Curtíamos um pouco de hard rock dos anos 80, e então rolou "Kiss of Death" do Dokken. Com as presenças de Nilton e Cláudio na banda, tocamos duas do Iron: além de "Powerslave", fomos de "2 Minutes to Midnight".
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