quinta-feira, julho 31, 2008

5.º show - 28.09.2000 (?) – Garagem Hermética (com várias bandas)

Não lembro exatamente como surgiu o lance de tocarmos no Garagem Hermética. Esse local era um conhecido e tradicional ponto de encontro de públicos de gosto musical variado, com predominância, talvez, para a galera Famecos. Já tinha assistido ali a um show da Hibria com o vocalista antigo (que não sabia cantar “Tornado os Souls” do Megadeth, e quem subiu ao palco foi a Dige, irmã do baterista da banda), de modo que era uma grande honra tocar no mesmo lugar. O local havia sido reformado, e assim o palco estava montado do lado esquerdo de quem entra, a aproximadamente um metro de altura (no show da Hibria que eu tinha assistido, o palco ficava uns 20cm do solo, e se posicionava à direita de da entrada.

Depoimento inestimável do Valmor (Bruce): "Me lembro de estar bastante empolgado com este show, na lendária casa da Barros Cassal. Ainda hoje quando vou lá ver algum show, estranho o fato de o palco ter sido trocado de lado após incêndio. Então onde tocamos agora há um bar. Uma das minhas anedotas favoritas sobre esta noite é sobre o Bill, que viera de aula na PUC para curtir nosso show. O cara entrou no ônibus vazio, e logo depois entrou um cara com a maior cara de assaltante, passou a roleta e sentou ao lado dele. Num reflexo inexplicável, nosso amigo começou a se comportar feito autista, falando sozinho e se balançando e batendo a cabeça no vidro. Funcionou, pois a figura ameaçadora se assustou e foi sentar longe. "

Naquele dia tocariam diversas bandas (dentre as quais a banda do Nedimar e do Bill), de modo que o set list não poderia ser muito longo. Mesmo assim, preparamos diversas músicas, e dentre as novidades estava “Snowblind” do Black Sabbath, que tocaríamos em tom bem grave, e de certa forma dedicamos ao Felipinho, que era grande fã da banda de T. Iommi, e estava lá (e parece ter curtido). Além dessa, ensaiamos “Fool For Your Loving” do Whitesnake, na versão Steve Vai, o que me pareceu um pouco audacioso, pois se trata de uma versão de hard rock magnífica e de virtuosismo. Entretanto, acima de tudo estávamos entusiasmados com o Cláudio, que tirou o solo de Vai e executou, ao seu estilo, o mais próximo possível do original.

Valmor: "Pelo que recordo, tocou antes de nós uma banda de gurizada que executou um set list caótico que ia de Rush (muito mal tocado) até a música do "lacre azul do cachorrinho". Eu e o Filipinho ficávamos gritando bobagens nonsense durante o show dos caras. Eram 4 bandas no total (ou 5, não lembro bem), e ainda tocaria depois de nós uma banda instrumental (o Bill conhecia os caras) e no fim a Atrack."

Esse foi um show estranho; tenho poucas recordações dos momentos anteriores (sei que foi pouco depois do meu aniversário), e acho que não estava nervoso. Queríamos tocar “Noise Garden”, e diante do fato de que essa exigia a guitarra afinada em dropped-D, preparamos guitarras reservas para trocar durante o show. Só que quando acabamos uma música e trocamos as guitarras para tocar “Noise Garden” parece que deu a impressão do show ter terminado. Vi que um cara da banda que tocaria em seguida começou a pedir pelo fim da apresentação. O sujeito ficou acenando bastante e aquilo me irritou profundamente, pois ainda tínhamos mais algumas músicas. Após alguns momentos de impasse (“continuamos ou saímos”), tocamos “Noise Garden”, e durante a execução eu comecei a aumentar o volume do amplificador, toda vez que via aquele cara encher o saco. Sabíamos que aquela seria a última música, e estava tão furioso que queria ficar tocando aquela música durante horas (poderia ficar solando infinitamente, porque a música se presta para improvisações nesse momento), e realmente fiz muito barulho para tornar o som o mais insuportável possível. Por fim acabamos a música e começamos a desmontar o equipamento. Por um instante cogitei de cortar o fio do amplificador com meu alicate, mas sabia que isso poderia causar tumulto e resolvi me conter. Não é da minha índole arruinar um evento por causa de um babaca. Sei que não fiquei pra ver as outras bandas e fui embora com a Sabrina.

O Bruce também teve essa impressão, de que o show foi detestável.

Valmor: "Este show me deixou com uma das impressões mais paradoxais. Em termos de performance, lembro que fomos impecáveis, tocando todas as músicas com ótima pegada. Só que o público foi geladíssimo (lembro que quando oferecemos um CD demo de graça como de praxe ninguém se agilizou pra pegar) e ainda por cima, perto do fim do set o cara da banda seguinte começou a chatear para terminarmos. Descontentes, descarregamos nossa revolta em uma extended version de "Noise Garden", com muita barulheira no fim, espancando os instrumentos. Dada a incomodação, acabamos indo embora bem rápido, ao contrário de permanecermos curtindo mais um pouco os shows, como de costume."

Depoimento do Nílton: "Bom, na realidade não me lembro muito bem do show, exceto de que o Guilherme havia se estranhado com um rapazote da outra banda... Pra variar lembro que o palco era apertado e eu sempre tinha que ficar ou de lado ou atrás de alguém (no bom sentido). Não sei se foi nesse ou em algum outro que eu estava tentando fazer uns backs e aí tentava me concentrar para conseguir utilizar minhas duas metades do cérebro. Depois de um tempo eu percebi que não tinha a habilidade necessária para tanto. Gostei do palco ser alto e tal, mas realmente, o público não estava ajudando, até porque havia muitas bandas com estilos diferentes e tal. Esse tipo de evento que junta muita gente com gostos diferentes não dá certo, como as bandas que utilizam a incrível técnica de cantar para dentro juntamente com os gurizinhos que ficam masturbando os instrumentos para mostrar que são virtuosos... Fora o conflito de idades... nós éramos um pouco mais velhos que o público do local e a maioria do pessoal, eu acho, era fã de punk rock. É o que me lembro."

quinta-feira, julho 24, 2008

4.ª show - 29.08.2000 – Festival de Talentos PUCRS (com várias bandas)

Poucos dias depois do show no Heaven Café, nos encontramos na PUCRS para uma apresentação curta no Festival de Talentos de 2000 (tão logo foi anunciado o evento, inscrevi a banda - não lembro se era necessário entregar fita com amostra do som, exigência que se faria presente no ano seguinte). Os shows se dariam no reformado auditório do prédio da arquitetura (antigo prédio do direito), e fomos escalados para o primeiro dia, uma terça-feira. O Fernando, que era meu colega numa cadeira da faculdade, e o Giuliano apareceram para nos ver.

Antes de subirmos ao palco, assistimos do lado de fora várias apresentações de todo o tipo, afinal, num Festival de Talentos tem de tudo (reagge, MPB, punk, etc.). O esquema era basicamente igual ao nosso primeiro show: tocar por 15 minutos. Assim, não lembro exatamente como nem porque, mas elegemos “Heartbreakin´”, “Kiss of Death” do Dokken, e “Boats are Burning” – deu tempo, ainda, para “Spectreman”. Arruinei a execução de "Heartbreakin´", pois estava com a guitarra desafinada (o Giuliano percebeu e comentou depois), e a saída foi deixar a minha guitarra mais baixo que a do Cláudio. Com a afinação correta, tocamos as outras faixas de forma bem acelerada. Tempos depois vi que tinha um site da Famecos sobre o evento, e tinha disponível uma mini-entrevista com o Luciano e um mp3 de “Boats are Burning” e, nossa, como tocamos rápido essa (é espantoso como conseguimos nos acompanhar com tanta correria).

Assim como no Heaven Café, subi ao palco com o chapéu “Blackmore”, que caiu durante o solo do Cláudio no cover do Dokken. O lance todo foi muito rápido; quando já estava me sentindo confortável e com vontade de tocar, acabou. Em seguida estávamos do lado de fora batendo papo com o Minduim (que filmou a apresentação), o Giulia, a Sabrina, a Raquel, a Vanessa (acho) e o Pedro (acho), tirando sarro de algumas bandas que vieram depois, e tal. Se o show não foi dos melhores, pelo menos nos divertimos bastante.

Depoimento do Valmor (também conhecido como Bruce em todos os posts sobre a Burnin´ Boat): "Uma das grandes rateadas históricas foi não termos catado com o Christian Satã a gravação direto da mesa deste show, de onde tiraram aquela mp3 de "Boats Are Burnin'". Executamos as músicas com muita velocidade, e lembro de "Heartbreakin'" ter rolado com certa insegurança (talvez a bateria estivesse "andando"). Não surpreende que tenhamos executado 4 faixas". Não foi por esta época que fizemos aquele ensaio no Brothers onde tocamos "The Tower" e outras?"

Seguem os clips de "Kiss of Death", "Boats are Burning" e "Spectreman".

quarta-feira, julho 16, 2008

3.º show - 27.08.2000 - no Heaven Café (com Anya)

Cada show da Burnin´ Boat teve um set list diferente; além disso, tentávamos incrementar a apresentação com o que pudéssemos oferecer como novidade. Para esse show do Heaven Café, resolvi “subir” ao palco (que, na verdade, ficava ao nível da platéia, e era montado numa espécie de porão do bar; a parte do “Café”, onde as pessoas ficavam bebendo e tinha efetivamente um balcão com garçom e bebidas, ficava acima) com um chapéu de caubói (na verdade um chapéu com propaganda da Expointer), para tentar lembrar um pouco do R. Blackmore. Na época o Iron Maiden havia lançado recentemente um disco muito esperado, o “Brave New World”, pois marcava o retorno de Bruce Dickinson e de Adrian Smith. Assim, particularmente estava orgulhoso de inserir no set list uma música desse disco, “The Wicker Man”. Para esse show, tiramos (menos o Bruce, que errou medonhamente antes do solo do Cláudio) também “Prowler” e, por fim, tocamos “2 Minutes to Midnight”, que não havia sido preparada para o show, mas que acabei puxando num momento em que o microfone deu problema (acabou dando tempo para o Luciano cantar toda ela, após o conserto do microfone).

A apresentação se deu no final da tarde de um domingo, na mesma data em que o Jota Quest se apesentaria no auditório novo perto do Centro Administrativo. Esse show teve uma boa divulgação, provavelmente devido ao esforço da Anya (distribuição de flyers e cartazes nas lojas de cd do Centro), que era a banda nova do nosso velho conhecido Guilherme Deahtroner. Os caras se apresentaram depois de nós e eram muito bons músicos; tocaram, por exemplo, “Master of Puppets”, do Metallica, e “Caught Somewhere in Time”, do Iron Maiden. Curiosamente, o vocalista era um sujeito que estudava uma série depois da minha no meu colégio, e foi um dos primeiros (se não o primeiro) vocalista da Hibria (quando esta se chamava Malthusian). Com a boa divulgação, o público foi muito bom. O flyer enunciava as bandas que seriam “coverizadas”, e o local atraiu muitos fãs de Iron Maiden e Metallica. Além disso, a maioria também conhecia Deep Purple. Assim, nossa apresentação foi um sucesso junto ao público, que agitou e acompanhou as músicas do início ao fim.

O set list foi dividido em covers e próprias, e esse foi o único show em que tocamos “World on the Edge”, que eu gostava bastante, mas tinha riffs bem parecidos com uns do Whitesnake e do Impellitteri, tenho que admitir. Além dessa novidade, tocamos outras duas (então) compostas recentemente, "Heartbreakin´" (um hard rock com um riff de que me orgulho bastante, sofisticado para o meu padrão) e "Black Dressing Soul" (com o riff principal inspirado no Metallica da época do disco "Load"). Das antigas, fomos de "Boats are Burning", "Over the Moon", e "Hidden". Em relação aos covers, o Iron Maiden foi dominante (influência do Nilton e do Cláudio): "2 Minutes do Midnight", além de "Prowler" e "The Wicker Man". Mantivemos "Kiss of Death", do Dokken, e fechamos com "Burn", do Deep Purple, uma de nossas favoritas.

Acho que aqui foi a primeira vez que uma corda da minha guitarra arrebentou (era freqüente isso acontecer em ensaios). Isso aconteceu na nossa composição instrumental, “Attitude Adjustment”, após o meu solo. Deixei minha guitarra Cobra de lado, e peguei a Squier Strato do Bruce, que levávamos como reserva. Isso conferiu ainda mais autenticidade à minha sedizente imagem de R. Blackmore, e um cara do lado do meu colega da faculdade, o Fernando, lembrou isso, para meu orgulho.

Estávamos todos a vontade diante de tanta receptividade, e no vídeo dá pra ver o Nilton olhando para a galera e agitando bastante. O Pedro se fez presente e foi o cinegrafista (acho que na ausência do Minduim).

Tratou-se de uma das poucas apresentações em que fiquei até o final do evento, pois assistimos o competente show da Anya, e ainda ficamos conversando um tempo até chegar a carona para levar o equipamento para casa.

Dois dias depois teríamos mais uma apresentação, que viria a ser o 4.º show da Burnin´ Boat.

sábado, julho 12, 2008

2.º show - 18.06.2000 – Teatro de Elis (com Daduke e Pulse)

No começo do inverno de 1999, perto das férias de julho, mas antes das últimas provas do G1, fizemos o primeiro show da Burnin´ Boat. Fiquei bastante eufórico nos dias seguintes. Entretando, logo deu para perceber que o Luciano e o Guilherme Deathroner não tinham tanta vontade de tocar com a gente, seja pelas covers, seja pelas composições próprias, e essa situação era frustrante (e cheguei ao ponto de mandar um e-mail lamentável para os caras... definitivamente não sabia conduzir as coisas adequadamente, e é evidente que isso não rendeu bons frutos). O Bruce e eu costumávamos, em retorno, desmarcar ensaios da Ruligans para tocar como Burnin´ Boat, e eventualmente a Ruligans se dissolveu. Assim, a Burnin´ Boat ficou resumida a guitarra e bateria por vários meses. Mesmo assim, o Bruce e eu mantivemos uma rotina semanal de ensaios, e isso proporcionou o desenvolvimento das músicas próprias. Afinal, curtíamos mesmo era tocar o que desse na cabeça e os ensaios se resumiam basicamente a longas sessões de improvisação. Só que tínhamos uma noção de começo, meio e fim nessas improvisações, e não raro saíamos com a sensação de que éramos capazes de compor discos inteiros com músicas criadas espontaneamente nesses ensaios. Essa sensação transformou-se numa espécie de convicção quando chegamos ao ponto de voltar para casa, após um ensaio, ouvir as fitas, passar para o computador, gravar os mp3, tirar os riffs, transcrever tudo para um programa de edição de tablaturas, e ajustar a ordem das partes da música; ao final desse processo, tínhamos uma música nova. Um excelente exemplo desse nosso método de composição é a faixa “Noise Garden”.

Voltando um pouco no tempo - 1998, Parasite, muitos ensaios

No final de 1999 estávamos a procura de um vocalista. Convidei o namorado duma colega de estágio, mas o cara estava se dedicando aos estudos, até chegou a ouvir uma fita, mas não se interessou em fazer um teste. Já tínhamos tido uma experiência de "quase" formação da banda anteriormente, então sabíamos das dificuldades, não tínhamos pressa, mas já estávamos ansiosos para tocar com a formação completa. Um ano antes (1998), o Pedro, quando ainda era nosso “tocador de baixo” (embora raramente aparecesse em algum ensaio), tinha contato com a Parasite, uma banda cover do Kiss que ele “empresariava” de certa maneira. Aparentemente o “Paul Stanley” da Parasite, chamado Felipe, também tinha umas composições, e o Pedro e o Bruce tiveram a idéia de chamar o cara para tocar conosco. Não demorou e fizemos um ensaio num sábado quente de dezembro de 1998 no nosso estúdio, e tocamos, basicamente, músicas do Kiss. Nunca tínhamos tocado tantas músicas legais, e embora nunca tivesse praticado os solos do Ace Frehley em casa, sabia boa parte deles só de ler as tablaturas nas revistas de guitarra e na internet. Apresentamos “Hidden” para o Felipe, e ele mostrou uns trechos de uma composição dele, que nem conseguimos tocar – simpesmente não acertávamos o tempo certo para entrar depois da introdução de guitarra (pedi para que ele gravasse numa fita para tentar tirar em casa, o que ele jamais fez, de modo que até hoje duvido que ele efetivamente tivesse as duas ou três músicas próprias que se dizia).

A formação, então, seria Bruce, Pedro, eu e Felipe. Fizemos mais um ou dois ensaios (janeiro de 1999), e aí já nos concentramos em tocar “Hidden”, à época um pouco diferente da versão eventualmente apresentada no Cecaf (a parte lenta seria não mais a base para o terceiro verso, e sim para um solo; o terceiro verso seria cantado sobre uma base mais rápida, o que acabou sendo rejeitado por todos, especialmente pelo Pedro que tinha muito pouca técnica para tocar nas partes mais fáceis – o que dizer numa parte rápida... imediatamente, então, sugeri tocar só uns acordes, e essa versão é a que acabou sendo registrada no nosso cd). Acontece que o fato de tocarmos várias músicas do Kiss no primeiro ensaio, aliado ao fato de que desempenhei com alguma decência os solos do Ace Frehley (pelo menos fiz uns bends enquanto o Felipe tocava as bases), acabou, em retorno, dando ensejo para um convite da Parasite para eu tocar com eles. O “Ace Frehley” dos caras estava enfrentando alguns problemas pessoais que não lembro ao certo, e o Felipe teve a idéia de me chamar. Recebi o convite no dia da festa de aniversário do Tiago e fiquei bastante feliz com a idéia, sobretudo pelos planos grandiosos que os caras tinham de, por exemplo, fazer shows no interior e tudo mais. Assim, no ano novo de 1999 fiz o primeiro ensaio com a Parasite e, depois de uma longa conversa, entrei para a banda.

Só que o fato do Felipe se dedicar (muito) mais à Parasite do que à Burnin´ Boat me perturbou um pouco, e tive a oportunidade de deixar claro para os caras que a minha idéia era a inversa, i. é, prioridade era a Burnin´ Boat. Em fevereiro de 1999 fiquei uma semana na praia e, na volta, fiquei sabendo que os caras tinham arranjado um substituto para mim (o fenomenal Daniel “Ace” Lairihoy), e a dupla Bruce & Pedro já haviam acertado a volta do Luciano para os vocais da Burnin´ Boat. Seguiram-se ensaios, finalizamos algumas músicas (como “Over the Moon” e, possivelmente, “Sweet Thing”) e em março já estávamos procurando um baixista. Chegamos a fazer um ensaio memorável com o famigerado “Petry do slap”, e dessa sessão frutificou a melodia do baixo no interlúdio de “Boats are Burning”. Tocamos também com Érico, o "Gene Simmons da Parasite", mas o cara não se interessou pelo nosso som (ele era fã de sons mais básicos), o que foi uma pena pois curtimos o jeito que ele tocava, somado ao fato de que ele sabia cantar decentemente. Eventualmente fizemos ensaios com vários amigos, como o Giulia & Joca, Diego & Jorge, Flávio e outros caras que participavam de salas do mirc ou zaz (teve um guitarrista, estilo Malmsteen, que ao final do primeiro ensaio me deu carona e sugeriu excluir o Bruce da banda, e formarmos uma nova... não por acaso, jamais tivemos notícia do cara).

O ensaio que tivemos com a dupla Jorge e Diego (que eram meus colegas de colégio, sendo que o segundo já a época era um dos guitarristas da Hibria) foi, assim como o com o Petry do Slap, particularmente produtivo. Tocamos algumas músicas nossas, e foi aí que o Diego deu uns toques muito legais (que acabamos incorporando definitivamente) com as guitarras harmonizadas nos versos de "Hidden" e na parada após o refrão de "Boats are Burning". Realmente isso serviu para abrir um pouco a cabeça em relação ao arranjo das linhas das guitarras - sabia que deveria evitar duas linhas iguais, mas não sabia, ainda, o que fazer para torná-las diferentes, e esse ensaio serviu para endender como poderíamos testar (e eventualmente adotar) certas idéias.

A formação clássica - 2000

Depois desse primeiro show no inverno de 1999, pouco mais do que muitos ensaios com jams e composições inesquecíveis só com guitarra e bateria frutificaram durante o resto de 1999. Afinal, lá por março de 2000, conseguimos via anúncios na rede dois sérios candidatos a baixista, simultaneamente; o Bruce agendou com um, eu com o outro. O primeiro baixista foi o que eu entrei em contato, e marcamos um ensaio. O cara era muito bom mesmo, e quis levar a fita do ensaio para casa para tirar as músicas imediatamente. Só que o lance do cara era montar uma banda para tocar e ganhar dinheiro, que era o tipo de idéia que não nos seduzia. Sabíamos que o nosso som não era do tipo comercial, e tínhamos consciência de nossas rasteiras habilidades musicais – tínhamos que amadurecer bastante ainda musicalmente. Além disso, a cada cover que tocávamos (tipo Maiden ou Sabbath) ele tentava acompanhar e dizia que havia aprendido há anos atrás, e que desde a adolescência ele não ouvia ou tocava nada da respectiva banda; ficou evidente que ele não era fã do som que adorávamos escutar e tocar. Assim, fizemos questão de deixar claro que não abriríamos mão de fazer a audição com o outro baixista, e assim o fizemos (afinal, levamos tanto tempo para encontrar alguém disposto a tocar conosco). O Bruce, então, marcou o ensaio com o Nilton (não lembro se a Vanessa se fez presente já naquele primeiro dia). A empatia foi imediata, pois o cara gostava das mesmas bandas que nós, e ainda mostrava uma certa vocação para compor (que ele acabou não exercendo no futuro que se seguiu). Sem contar que era uma excelente figura, e tinha a mesma vontade de tocar músicas boas que nós. Não tivemos dificuldade para escolher o Nilton, e a mim coube encontrar o outro cara para tentar pegar as fitas do ensaio de volta. Além disso, nessa época e durante algum tempo o Nilton namorava a Vanessa, que se tornou presença certa em quase todos os ensaios e uma grande amiga de todos.

Já tínhamos, então, um vocalista e um baixista, mas ainda faltava o outro guitarrista. Jamais cogitamos que a banda teria apenas a minha guitarra, sobretudo pelo fato de não ter a desejável habilidade para solar. Não demorou muito e o Nilton chamou um colega dele (acho que do colégio ou Escola Técnica), o Nedimar. Ensaiamos com ele e assim completamos a formação da banda: Bruce, eu, Luciano, Nilton e Nedimar.

Bem vistas as coisas, o Nedimar não era um guitarrista de heavy metal. O negócio dele era Pink Floyd, e ele empunhava uma Stratocaster e solava bem como David Gilmour, mas apesar do nosso som ser pesado foi notável que ele fez o esforço de aprender algumas músicas e tal. Não por acaso, uma das que ele tirou com mais facilidade foi “Cold Wind”, a única "balada" ou "lenta", que tem um dedilhado com guitarra limpa. Essa experiência com o Nedimar foi importante, pessoalmente, pois pela primeira vez questionei o som que estava extraindo da combinação guitarra-pedaleira-amplificador. A minha distorção era demasiado aguda e abelhuda, e parecia atrapalhar o som das músicas. Nesse sentido, o som do equipamento do Nedimar era muito melhor, e foi aí que aprendi a ouvir o som da minha guitarra com uma certa crítica. Até hoje não sei dizer se foi precocemente, mas o Nedimar concluiu em pouco tempo que não seria uma boa para ele continuar tocando com a gente. O cara me contou pessoalmente a sua decisão, numa vez em que nos encontramos no lotação para a faculdade. Fiquei um pouco decepcionado (recém tínhamos conseguido estabelecer e estabilizar uma formação), e deixei claro que era uma pena.

Mal sabíamos nós que com o Nilton havíamos conseguido mais que um baixista; o cara conhecia guitarristas aptos a tocar conosco. Assim, em questão de poucas semanas, apareceu o Cláudio. Este sim gostava de um som similar ao nosso, pois era fã de Black Sabbath, Ozzy Osbourne e Iron Maiden. Não bastasse isso, o cara tinha uma técnica incrível na guitarra, e sabia tocar muito bem os solos de todas as músicas dessas bandas. Parecia que não havia solo que ele não conseguisse tirar, pelo menos para o efeito de tocar conosco. Enfim, foi um baita acréscimo e a formação clássica da Burnin´ Boat estava reunida.

O 2.º show

Ensaiamos, então, semanalmente (preferencialmente nas tardes de sábado), formamos um repertório de composições próprias e covers, e logo aconteceu de ser marcado um show com outras duas bandas. Não lembro ao certo como isso surgiu, mas o show se daria no famoso Teatro de Elis (antigo Porto de Elis), perto do Barranco, num fim de tarde de domingo chuvoso de Gre-nal decisivo do Campeonato Gaúcho daquela temporada. Fiquei satisfeito, pessoalmente, com o fato de que rolou cartaz nas ruas anunciando esse show, pois um dos meus sonhos era esse: ter o cartaz com o nome da minha banda num muro da cidade.

Das bandas que tocaram conosco eu lembro só da Daduke. Encontramo-nos todos na passagem de som, e como a Daduke seria a última banda a tocar (os caras tinham trazido a bateria), eles fizeram a passagem primeiro e foram embora para voltar só na hora do show deles. Nos seríamos a banda do meio. Depois saímos para fazer um lanche (eu fiquei por perto, enquanto que o Luciano, o Bruce e não lembro mais quem foram no McDonald´s).

O público não foi expressivo, conquanto houvesse algumas pessoas que não eram conhecidas de nenhum dos integrantes das bandas; eram caras que tinham recebido o flyer do show nos bares da Av. Oswaldo Aranha (conversamos com alguns deles que estavam aguardando na pequena fila para entrar). De conhecidos estavam Raquel, Carol, uma amiga delas e do Bruce, a Vanessa, o Guilherme Deathroner, acredito que o Felipinho e o Minduim, e a Sabrina.

A Pulse foi a primeira banda da noite, e o som dos caras era mais para grunge, mas não acompanhei nada do show, pois queria me concentrar para quando fosse a hora de subir ao palco.

Apresentei-me com uma camiseta que o Bruce achava legal, do filme “Heat”. Abrimos com “Highway Star” do Deep Purple, e o ponto alto (evidentemente) não era a minha versão do solo de R. Blackmore, e sim a interpretação do Cláudio do solo de teclado do Jon Lord. Algumas pessoas se animaram bastante e ficaram se empurrando na frente do palco (o tradicional pogo). Certamente não tínhamos muita noção de set list, pois emendamos uma outra música rápida, dessa vez o nosso clássico “Boats are Burning”.

Nílton e Cláudio eram fanáticos por Iron Maiden, e assim foi natural que incorporássemos alguns covers, embora antes dos caras entrarem na banda isso fosse impensável (o Bruce nunca foi fã, embora tivesse comprado uns discos). Embora o Luciano não gostasse particularmente da música, para mim foi um momento memorável tocar “Powerslave”, uma bela composição do Iron, com vários riffs e andamentos. Lembro-me perfeitamente que o Guilherme Deathroner (notório admirador do Iron e fã do Steve Harris) se postou bem à frente do palco, e ficou de cara para o Cáudio durante o solo.

Eu fiz questão de que tocássemos uma do Kiss, e sugeri “I Stole Your Love”. Mas acho que só eu curtia essa música, pois ninguém realmente tirou a cover, de modo que não fizemos uma boa versão e foi a última vez que a tocamos. A apresentação durou mais de uma hora, e queríamos tocar o maior número possível de músicas, mesmo sem tê-las ensaiado todas adequadamente. Lembro que fiquei meio desconcertado por não aquecer propriamente para o show, conquanto tenha ido no camarim com a Sabrina para descansar antes de subir ao palco (durante a apresentação da Pulse).

Constou do set-list nossas principais composições próprias da época: além de "Boats are Burning", rolou "Over the Moon", "Hidden", a instrumental "Attitude Adjustment" e "Sweet Thing". Quanto aos covers, realizamos o sonho de tocar "Burn" (quando iniciamos a banda e o Bruce tomou contato com o disco "Burn" do Deep Purple, achávamos que jamais conseguiríamos executar essa faixa de 6min, com solos de guitarra e teclado, e de bateria, se considerarmos as linhas de Ian Paice durante os versos). Além disso, desde o início queríamos incorporar uma clássica obscura, e chegamos à idéia de tocar "Say What You Will" do Fastway, que é conhecida por ter sido a música de abertura do seriado "Juba e Lula". Curtíamos um pouco de hard rock dos anos 80, e então rolou "Kiss of Death" do Dokken. Com as presenças de Nilton e Cláudio na banda, tocamos duas do Iron: além de "Powerslave", fomos de "2 Minutes to Midnight".

quarta-feira, julho 02, 2008

1.º show - 1999 CECAF

O primeiro show da Burnin´ Boat, no começo do inverno de 1999, surgiu de uma oportunidade na qual o desafio de uma apresentação ao vivo nos pareceu plenamente vencível. O centro acadêmico da faculdade do Bruce e do Luciano estava organizando um festival de talentos no qual seria permitido às bandas (com pelo menos um integrante aluno daquela faculdade) uma apresentação de 15 minutos. Concluímos que poderíamos tocar por 15 minutos para o público, e concordamos que o repertório seria de duas músicas, uma própria e uma cover. As músicas não poderiam ser muito complexas, pois até então não tínhamos uma banda perfeitamente formada, nem tínhamos muita técnica para exibir, de modo que muitos guitarrismos não eram aconselháveis (não havia muito que eu tinha comprado a guitarra Cobra - uma Golden azul - e o amplificador Staner do Pedro...).

Na época, o Bruce e eu dividíamos a nossa atenção entre a Ruligans e a Burnin´ Boat, sendo que a primeira era formada por Bruce, eu, Luciano, Tiago e Guilherme Deathroner, e a segunda por Bruce, eu, um cara que tocava baixo que quase nunca apareceu para ensaiar (o Pedro) e um guitarrista que efetivamente nunca apareceu (um primo do Bruce, que tocava violão muito bem). Como o Tiago não se empolgou com a idéia, resolvemos tocar como Burnin´ Boat, e a formação seria Bruce, eu, Luciano e Guilherme Deathroner. Cogitamos agregar um guitarrista convidado, e o Bruce chamou um colega dele que tocava guitarra; fizemos um ensaio, emprestamos previamente fitas com as músicas para o cara - providenciei até um tablatura da nossa música - mas as coisas não andaram bem. O cara não tocava nosso som, tinha grande dificuldade para tocar com distorção, e não tinha conhecimento da técnica de abafar as cordas (e isso é básico para tocar hard rock/heavy metal). Mas eu não achava que o cara desistiria. E no ensaio seguinte, para minha surpresa, o sujeito não apareceu.

Voltando ao repertório, rapidamente decidimos que seriam tocadas “Deuce”, do Kiss, e “Hidden”, que era uma de nossas poucas composições próprias mais ou menos acabadas (a outra era “Over the Moon”, mas acho que em relação a essa só tínhamos o riff principal e os acordes do refrão – o resto todo seria composto um tempo depois). A música do Kiss era fácil, e o solo eu aprendi a tocar sem muitas dificuldades, pois era só decorar os bends do Ace Frehley. O Guilherme Deathroner também não teve dificuldade nenhuma para aprender essa música, em relação a qual ele não tinha grande simpatia (mas o cara foi muito profissional, pois, afinal, ele queria mesmo subir ao palco). Alguns anos mais tarde vim a saber que ele curtia “Hidden”, ou pelo menos respeitava a composição (no show que fizemos na Casa de Cultura ele reclamou a ausência de “Hidden” no setlist, e acho que desde então jamais deixamos de tocar essa música), e esse é o tipo de opinião que considero enormemente. Como eram só duas músicas, os ensaios foram produtivos; repetimos várias vezes cada música (e isso deveríamos ter feito para todas as outras apresentações...) e estávamos seguros e afiados para o show.

A ordem de apresentação das inúmeras bandas (além da nossa, estava agendada a apresentação da banda de uma garota que os caras chamavam de “Atitude” chamada Losna, e uma outra de uns caras que eram colegas dos Típicos, a Winston) foi estabelecida por sorteio, e acabou que nós seríamos a primeira banda do dia. O horário marcado era 14h. Então combinamos de chegar lá pouco antes disso, mas aí rolou uma baita falta de comunicação. Geralmente o Luciano me dava carona para os ensaios, e para a show não seria diferente, só que o cara ligou de um orelhão para o Bruce, acho que pela manhã, avisando que estaria sem o carro e que nos encontraria direto no local do show, e se não me engano dizendo que não poderia me avisar. O Bruce, que iria de carona com o seu pai, pouco se importou (afinal, o transporte dele estava garantido), e não me avisou de nada (não sei o que o cara pensou nessa hora, acho que ele nem se deu conta de que eu tinha ficado sem condução). Bem, no horário que havia sido combinado no dia anterior, me postei na frente do meu prédio esperando pelo Luciano por mais de meia hora; já era cinco para as duas e resolvi pegar um táxi (o carro do meu pai estava quebrado) e paguei uma fortuna pela corrida. Cheguei no local furioso com a falta de consideração, e não dirigi a palavra aos caras durante um tempão.

Muito embora o show estivesse marcado para as 14h, e mesmo tendo chegado atrasado, as apresentações não estavam nem perto de começar – recém estava sendo montado o palco, instalados os amplificadores (que eram bons), a luz, o som, etc. O público também era quase nenhum, e ficamos, assim, umas três horas esperando. Esse retardamento acabou sendo ótimo para nós e crucial para o sucesso da nossa apresentação, pois proporcionou um grande público que lotou o auditório.

Acho que subimos ao palco lá pelas 18h, não lembro se fomos apresentados, e nos instalamos à vista de todo mundo. Embora usasse a distorção da pedaleira que era do Luciano, tendo eleito um dos efeitos mais pesados (algo do tipo “bone crusher”), e ainda, por falta de conhecimento maior, utilizado a regulagem de equalização do amplficador tal qual atribuída ao Metallica antigo (isto é, agudos e graves no 10, médios no 0) – e essa combinação dava um caráter totalmente heavy metal para o som -, não gostava muito que rotulassem nosso som como heavy metal, e isso se devia muito pelo fato de que o Bruce, na época, não era fã de metal, e eu não queria fazer com que o cara tocasse numa banda cujo som fosse com ele incompatível. Assim, tão logo liguei meu instrumento e toquei um riff de que gostava bastante (meio Mercyful Fate), estranhei um pouco quando o Felipinho gritou algo como “metaaaaaaaal”. Além disso, fiz questão de me apresentar com a minha camisa preta do “Telecine”, e no vídeo dá pra ouvir algumas pessoas fazendo umas piadas e tal. Seja como for, o público estava bastante agitado e aparentemente estávamos agradando. Meu namoro com a Sabrina estava engatinhando, e não pedi que ela aparecesse por lá, pois em tese o show seria cedo, curto e seguramente eu estaria nervoso e não poderia dar atenção alguma a ela. Nessas condições, de conhecidos estavam Raquel, Carol, Felipinho e Minduim e Pedro (que no vídeo feito pelo Felipinho, apareceu no final da tarde dizendo que tinha vindo ver o Winston). O resto era a galera Famecos, bem barulhenta.

Optamos por começar com a cover, pois achamos conveniente tocar primeiro uma música “conhecida” (ou, no mínimo, a menos desconhecida). Todos a postos, iniciei “Deuce” e logo ouvi um grito agudo tipo “uhuuuuuuuuu” de uma guria (que suponho não era nem a Raquel, nem a Carol), e me empolguei bastante, na medida do possível (não costumo demonstrar a empolgação...). Acertamos toda a execução da música, e inclusive fizemos a coreografia do Kiss no final. A galera vibrou um monte e em seguida o Luciano anunciou a nossa composição. Hoje em dia não tenho como negar a influência heavy metal (tipo Metallica), e no vídeo aparece algumas cabeças balançando no ritmo da música.

Finalizamos nossa apresentação e foi muito legal perceber a ampla aprovação do auditório que vibrou um monte com a gente. É difícil descrever a sensação de estar no palco tocando guitarra, mas o certo é que depois dos primeiros momentos de insegurança, e sobretudo depois de se certificar de que não haverá problemas com o som, a coisa flui melhor e até dá pra pensar em aproveitar alguma coisa. No entanto, desde o primeiro show foi para mim uma dificuldade a de conseguir me desprender e conseguir atuar um pouco ao invés de só tocar guitarra olhando para o chão. Agora penso que só depois de muitos ensaios e treino para que a música flua sem ter que se concentrar em tocar as notas é que eventualmente será possível fazer algo que se possa chamar de performance de palco.

Bem, esse foi nosso primeiro show, e é lícito dizer que foi um sucesso. Depois, descemos do palco e arranjamos lugar para sentar; fiquei para assistir mais umas duas ou três bandas (uma que tocou Metallica e Natiruts, e a Losna da “Atitude”). Deu tempo de dar uma “entrevista” para uma guria que se identificou como repórter do jornal do centro acadêmico.