Não lembro exatamente como surgiu o lance de tocarmos no Garagem Hermética. Esse local era um conhecido e tradicional ponto de encontro de públicos de gosto musical variado, com predominância, talvez, para a galera Famecos. Já tinha assistido ali a um show da Hibria com o vocalista antigo (que não sabia cantar “Tornado os Souls” do Megadeth, e quem subiu ao palco foi a Dige, irmã do baterista da banda), de modo que era uma grande honra tocar no mesmo lugar. O local havia sido reformado, e assim o palco estava montado do lado esquerdo de quem entra, a aproximadamente um metro de altura (no show da Hibria que eu tinha assistido, o palco ficava uns 20cm do solo, e se posicionava à direita de da entrada.
Depoimento inestimável do Valmor (Bruce): "Me lembro de estar bastante empolgado com este show, na lendária casa da Barros Cassal. Ainda hoje quando vou lá ver algum show, estranho o fato de o palco ter sido trocado de lado após incêndio. Então onde tocamos agora há um bar. Uma das minhas anedotas favoritas sobre esta noite é sobre o Bill, que viera de aula na PUC para curtir nosso show. O cara entrou no ônibus vazio, e logo depois entrou um cara com a maior cara de assaltante, passou a roleta e sentou ao lado dele. Num reflexo inexplicável, nosso amigo começou a se comportar feito autista, falando sozinho e se balançando e batendo a cabeça no vidro. Funcionou, pois a figura ameaçadora se assustou e foi sentar longe. "
Naquele dia tocariam diversas bandas (dentre as quais a banda do Nedimar e do Bill), de modo que o set list não poderia ser muito longo. Mesmo assim, preparamos diversas músicas, e dentre as novidades estava “Snowblind” do Black Sabbath, que tocaríamos em tom bem grave, e de certa forma dedicamos ao Felipinho, que era grande fã da banda de T. Iommi, e estava lá (e parece ter curtido). Além dessa, ensaiamos “Fool For Your Loving” do Whitesnake, na versão Steve Vai, o que me pareceu um pouco audacioso, pois se trata de uma versão de hard rock magnífica e de virtuosismo. Entretanto, acima de tudo estávamos entusiasmados com o Cláudio, que tirou o solo de Vai e executou, ao seu estilo, o mais próximo possível do original.
Valmor: "Pelo que recordo, tocou antes de nós uma banda de gurizada que executou um set list caótico que ia de Rush (muito mal tocado) até a música do "lacre azul do cachorrinho". Eu e o Filipinho ficávamos gritando bobagens nonsense durante o show dos caras. Eram 4 bandas no total (ou 5, não lembro bem), e ainda tocaria depois de nós uma banda instrumental (o Bill conhecia os caras) e no fim a Atrack."
Esse foi um show estranho; tenho poucas recordações dos momentos anteriores (sei que foi pouco depois do meu aniversário), e acho que não estava nervoso. Queríamos tocar “Noise Garden”, e diante do fato de que essa exigia a guitarra afinada em dropped-D, preparamos guitarras reservas para trocar durante o show. Só que quando acabamos uma música e trocamos as guitarras para tocar “Noise Garden” parece que deu a impressão do show ter terminado. Vi que um cara da banda que tocaria em seguida começou a pedir pelo fim da apresentação. O sujeito ficou acenando bastante e aquilo me irritou profundamente, pois ainda tínhamos mais algumas músicas. Após alguns momentos de impasse (“continuamos ou saímos”), tocamos “Noise Garden”, e durante a execução eu comecei a aumentar o volume do amplificador, toda vez que via aquele cara encher o saco. Sabíamos que aquela seria a última música, e estava tão furioso que queria ficar tocando aquela música durante horas (poderia ficar solando infinitamente, porque a música se presta para improvisações nesse momento), e realmente fiz muito barulho para tornar o som o mais insuportável possível. Por fim acabamos a música e começamos a desmontar o equipamento. Por um instante cogitei de cortar o fio do amplificador com meu alicate, mas sabia que isso poderia causar tumulto e resolvi me conter. Não é da minha índole arruinar um evento por causa de um babaca. Sei que não fiquei pra ver as outras bandas e fui embora com a Sabrina.
O Bruce também teve essa impressão, de que o show foi detestável.
Valmor: "Este show me deixou com uma das impressões mais paradoxais. Em termos de performance, lembro que fomos impecáveis, tocando todas as músicas com ótima pegada. Só que o público foi geladíssimo (lembro que quando oferecemos um CD demo de graça como de praxe ninguém se agilizou pra pegar) e ainda por cima, perto do fim do set o cara da banda seguinte começou a chatear para terminarmos. Descontentes, descarregamos nossa revolta em uma extended version de "Noise Garden", com muita barulheira no fim, espancando os instrumentos. Dada a incomodação, acabamos indo embora bem rápido, ao contrário de permanecermos curtindo mais um pouco os shows, como de costume."
Depoimento do Nílton: "Bom, na realidade não me lembro muito bem do show, exceto de que o Guilherme havia se estranhado com um rapazote da outra banda... Pra variar lembro que o palco era apertado e eu sempre tinha que ficar ou de lado ou atrás de alguém (no bom sentido). Não sei se foi nesse ou em algum outro que eu estava tentando fazer uns backs e aí tentava me concentrar para conseguir utilizar minhas duas metades do cérebro. Depois de um tempo eu percebi que não tinha a habilidade necessária para tanto. Gostei do palco ser alto e tal, mas realmente, o público não estava ajudando, até porque havia muitas bandas com estilos diferentes e tal. Esse tipo de evento que junta muita gente com gostos diferentes não dá certo, como as bandas que utilizam a incrível técnica de cantar para dentro juntamente com os gurizinhos que ficam masturbando os instrumentos para mostrar que são virtuosos... Fora o conflito de idades... nós éramos um pouco mais velhos que o público do local e a maioria do pessoal, eu acho, era fã de punk rock. É o que me lembro."
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